Arquivo da tag: demônio

The Omen – A Profecia (1976) de Richard Donner

A Profecia” pode ser utilizado para exemplificar um filme de terror em sua essência. Ele não tem sustos com jogadas de câmeras e sons repentinos, mas te faz arrepiar com uma história magnífica e terrível. Para pessoas sensíveis às histórias que envolvem o Diabo (ou semelhantes), a produção pode perturbar seriamente. Lançado no dia 6 de junho de 1976, o filme moldou um formato de se fazer filme de terror baseado na sensação. E esqueça qualquer coisa sobre a refilmagem, lançada no dia 6 de junho de 2006, por favor.

Richard Thorn (Gregory Peck), embaixador americano então em Roma, e sua esposa Kathy Thorn (Lee Remick) finalmente conseguem ter um bebê, nascido às 6h do dia 6 de junho. Mas ele morre assim que vem ao mundo. Richard, desesperado, busca ajuda em uma igreja, e o sinistro padre do local lhe oferece uma criança, também recém-nascida, mas órfã. Um bem mútuo. Sem contar a verdade para a esposa, Richard leva a criança para sua mulher e eles a criam como se fosse deles. Acontece que a criança  é o Anticristo, e os pais vão descobrir isso das piores maneiras possíveis. Perto de completar 6 anos de idade, coisas estranhas começam a acontecer ao redor do pequeno Damien Thorn (Harvey Stephens). Ele tem medo de igreja, problemas com animais selvagens e coisas do tipo. A história fica cada vez mais intensa, até Richard chegar à verdade sobre a mãe biológica de seu querido filho.

A profecia, do nome traduzido, se refere a uma passagem da bíblia, livro do apocalipse. Ela cita o momento exato em que o Anticristo surgirá e acabará com a humanidade criando seu reino na terra. Dependendo da forma com que se interpreta a profecia, ela pode ser vista como o nascimento de Damien, do jeito que acaba concluindo o personagem principal. Um dos grandes empecilhos na batalha para deter o mal é que ele está no corpo de um menino inocente, pelo menos até o momento, que fora criado com muito amor por seus pais. Uma das cenas mais inesquecíveis do filme acontece logo no início, durante a festa de aniversário de 5 anos de Damien, quando sua babá prepara um presente especial para ele, com as palavras “Olhe para mim, Damien. Isso tudo é para você“.

Tecnicamente, o filme possui umas jogadas de câmera interessantes, como quando Robert volta à sua casa para levar o filho até uma igreja, na reta final. A câmera dá um giro quase completo para demonstrar o clima obscuro em que o imóvel se encontra. Também conta com alguns closes assustadores na face dos personagens e do rotweiller demoníaco. Na atuação, Gregory Peck tem um desempenho absolutamente satisfatório. Consegue transpassar a emoção e a seriedade de seu personagem, e o choque ao descobrir que seu filho é o Anticristo, bem como o peso de um pai carregado de culpa. No mesmo nível, Billie Whitelaw, que faz o papel da babá Mrs. Baylock, está aterrorizante. Faz você pensar em “como os pais deixam o filho com uma mulher assustadora dessas?”.

O filme, como um bom terror, fará você ter calafrios. Não porque ele tem cenas horríveis (apesar de ter), mas porque possui um clima denso. Tal atmosfera faz com que, hoje em dia, a aparência vintage do filme de 1976 seja um ingrediente a mais para o pavor. A cena de decapitação presente no filme, para uma obra da década de 70, mostra o refinamento e o brilhantismo horrível de “A Profecia”. E prepare-se, pois o Anticristo já está entre nós.

“When the Jews return to Zion
And a comet rips the sky
And the Holy Roman Empire rises,
Then you and I must die.
From the eternal sea he rises,
Creating armies on either shore,
Turning man against his brother
‘Til man exists no more.”

Rosemary’s Baby – O Bebê de Rosemary (1968) de Roman Polanski

De volta ao blog e de volta ao clássico.

Esse poster ficou em 21º lugar num prêmio de "Os 25 melhores pôsteres de todos os tempos"

Quando se fala em horror clássico, alguns títulos automaticamente vem à mente, como “A Profecia”, “Alien”, “o Exorcista”, ou títulos do Hitchcock, todos horripilantes ao seu modo, mas no que se trata de pesadelo surreal, principalmente de mulheres que anseiam a gravidez, nenhum supera o “Bebê de Rosemary”.

Antes de dissertar mais sobre o filme, contarei uma trágica curiosidade: A esposa do diretor Roman Polanski, então grávida, fora assassinada em 1969, um ano após o lançamento do filme, pelo famoso assassino Charles Manson, que nomeou tal crime de Helter Skelter por causa da música dos Beatles. Acontece que John Lennon, assassinado em 1980, morou um tempo no prédio em que o filme foi rodado, em Manhattan. Assustador, no mínimo.

Tragédias verídicas à parte, vamos à sinopse:

Rosemary e Guy Woodhouse (Mia Farrow e John Cassavetes) são recém casados e mudam-se para o prédio conhecido como The Bramford, em Manhattan. Logo já fazem amizade com um idoso casal bisbilhoteiro do apartamento ao lado, Roman e Minnie Castevet (Ruth Gordon e Sidney Blackmer).

Ao passo que a amizade entre Guy e o casal de vizinhos aumenta, ele consegue sucesso na carreira de ator por desgraça de concorrentes. Além disso, alguns outros eventos estranhos também sucedem, como a misteriosa morte de uma jovem que morava com os velhos e o crescente interesse por parte deles no desejo de Rosemary ter um bebê.

O filme retrata aquele pesadelo que talvez todos nós já tivemos um dia: o complô. No qual nunca conseguimos respirar aliviados e todos são suspeitos de algo, nenhum lugar parece seguro. A aflição que ronda o filme da metade para o horripilante final é absolutamente intensa e a canção do crédito inicial é uma boa introdução à sua atmosfera.

Ambientado quase em sua totalidade no apartamento do casal, o espectador entra totalmente no clima ao passar dos minutos, vivenciando o horror de Rosemary em sua gravidez, e observando o amor que ela desenvolve pela criança em seu ventre.

A despeito de uma ou outra nuance de humor, a produção carrega uma sensação de pesadelo o tempo todo, confundindo inúmeras vezes a “realidade” da protagonista com seus frequentes sonhos, aparentemente sem muito sentido, e mergulha cada vez mais nessa alucinação, até Rosemary ver-se sem saída.

Mia Farrow não era o fenômeno em sua época à toa. Entre o final da década de 60 e a década de 80, só dava ela nos cinemas, com média de mais de um filme por ano. Vencedora do Globo de Ouro por “O Bebê de Rosemary”, a atriz nos faz sentir suas cólicas e nos faz adentrar junto em seu desespero solitário, sempre desacreditada pelos outros personagens e investigando os estranhos acontecimentos da trama.

John Cassavetes também está excelente como um marido brincalhão que lentamente assume um papel diferente e muda sua personalidade ao passo que a produção avança e sua amizade com os vizinhos se aprofunda. O filme rendeu um Oscar à Ruth Gordon, na categoria de atriz coadjuvante.

No mais, a iluminação de filmes antigos e o enorme apartamento já causam calafrios o suficiente, somados aos estranhos detalhes que afunilam para o momento derradeiro, que já disse ser horripilante e surpreendente.

Não vá pensando que é um filme de horror como os de hoje. é um clássico e, portanto, tem um ritmo lento. São 137 minutos trabalhando o clima de paranoia surreal, sem nenhum susto ou cena traumatizante (ok, talvez uma ou outra…). Vale a pena assistir para entender o que é horror de verdade, sem apelar para pânicos repentinos ou violência.

É um pesadelo e tanto.

“He chose you, honey! From all the women in the world to be the mother of his only living son!”